"É a nossa atitude perante os problemas e as adversidades, que ditará a direção da nossa vida!"
Desabafos de uma psicoterapeuta em Quarentena | Dia 11
Todos nós estamos a viver momentos, talvez imaginados em filmes de ficção…. ouvíamos remotamente falar dum vírus que pairava pela China… mas seria algo que não nos afetaria.
Mantivemos o nosso quotidiano onde tudo estava garantido… emprego, ordenado, saúde, férias de Páscoa e Verão provavelmente já agendadas e pagas, planos para comprar o tão desejado carro novo, ou casa quiçá!
E, de um dia para o outro, ainda meio atordoados sem entendermos bem como tudo isto aconteceu, tudo mudou… Tudo o que tínhamos como garantido se alterou, a forma como tínhamos a nossa vida estruturada mudou, as rotinas mudaram, nós mudámos!
E o receio tomou conta de nós! O medo de estar infetado/a (ou poder vir a estar), o medo de perdermos os “nossos”, o medo do isolamento, o medo da situação financeira o medo da situação caótica, o medo do amanhã, o medo… do desconhecido…
Se por um lado o medo é uma reação normal a uma situação adversa e nos protege do perigo, por outro lado é fundamental ter presente, que o excesso de medo nos adoece.
E num momento tão atípico como o que estamos a viver devemos ter sempre presente que a maior prisão é a da mente e que toda a crise é composta por três elementos: uma solução, um prazo de validade e uma lição para a vida!
Todos nós corríamos freneticamente no nosso dia-a-dia, fazendo malabarismos sem fim numa tentativa (vã) de tentar equilibrar a nossa vida profissional, pessoal, social, os nossos hobbies, os nossos filhos, tarefas domésticas, sem tempo para nada…
Se a pandemia pode ser vista como uma epifania, com um poder transformador das nossas vidas e que após tudo isto, seremos seres humanos clarividentes e melhores… claro que não!!
Este vírus colocou as nossas vidas de pernas para o ar, gerou em todos nós uma sensação de insegurança e fez-nos perceber que efetivamente de um dia para o outro… tudo muda… num piscar de olhos… o que temos como certo e garantido, na verdade não o é.
Pois é, aparentemente, agora temos aquele tempo que de uma forma quase “sôfrega”, tanto desejávamos! Mas e o que estamos de facto a fazer, com esse tempo? A sofrer? A dormir? A ler incessantemente notícias que aumentam ainda mais a nossa ansiedade? A criar entropia interna?
A constância e equilíbrio deverão ditar os nossos dias, e muito deste equilíbrio depende da perspetiva que escolhemos para olhar o mundo.
Porque, sim, o Ser Humano é na sua essência, otimista e resiliente! E foram estas capacidades que nos preservaram enquanto espécie, que nos permitiram continuamente recuperar de situações de crise e aprender com elas!
Então, vamos ser realistas, criar novas rotinas, mudar hábitos, reinventar-nos e meter mãos à obra:
- Mantendo a mente flexível e o pensamento otimista com a certeza que tudo passa;
- Mantendo contatos sociais com familiares, amigos, vizinhos, de forma a diminuir o isolamento, utilizando os meios disponíveis como, o WhatsApp, Messenger, Zoom, Padlet, TicToc, Snapchat, Slack, Trello, Mentimeter, e quiçá….o já velhinho e esquecido telefone (ainda funciona, sabiam?);
- Acreditando que todo o esforço que estamos a fazer é crucial e fará a diferença também na vida de alguém;
- Diminuindo o tempo durante o qual nos mantemos quase de uma forma voyerista a procurar notícias sobre a pandemia (porque isto de estar recorrentemente a pensar no assunto aumenta consideravelmente o pensamento acelerado e consequentemente a ansiedade e o medo), protegendo-nos do excesso de exposição a notícias sobre o tema;
- Garantindo que sempre que procuramos informação sobre o desenvolvimento do surto pandémico, o fazemos em fontes oficiais e credíveis. (Sugestão: escolham um horário por dia para atualizarem a informação que tem sobre a situação e restrinjam o acesso de informação a esse momento único. Por exemplo: ver o telejornal das 20h num canal credível e cingirem o acesso de informação a esse único momento);
- Mantendo um estilo de vida saudável, dieta adequada, exercício físico adaptado às condições da habitação de cada um de nós, mantendo períodos de sono e descanso equilibrados;
- Aproveitando o facto de podermos usufruir de tempo (adicional) de qualidade com os nossos filhos, maridos/esposas (afinal se os escolhemos para nossos parceiros é porque teriam umas caraterísticas atrativas para nós, certo?);
- Ocupando o tempo com atividades rotineiras (aparar a relva do jardim, plantar tulipas, ou tirar o pó dos automóveis… que por incrível que pareça, a cor original das jantes não é preta!);
- Mantendo rotinas e horários (Sim!!!!!…. não é para ficar na cama até tarde! Não estamos de fim-de-semana, nem tampouco de férias, estamos apenas a reaprender uma nova forma de viver). E por incrível que pareça, não é que o Ser Humano gosta e precisa de rotinas para manter o equilíbrio emocional?! (levante-se à hora habitual, vista-se como se fosse sair, faça as refeições em horários definidos (e até podemos ir almoçar fora, na varanda ou jardim), faça exercício físico (porque isto de estar todo o dia sentado ou deitado, vai trazer chatices daqui a uns tempos);
- Aproveitando o acréscimo de tempo livre para colocar em dia tarefas, projetos que têm sido adiados por falta de tempo (arrumar aquele armário que à muito tempo se pretendia organizar, fazer aquele álbum de fotografias dos Natais desde a era Afonsina que está por fazer, aprender a fazer receitas culinárias inovadoras e arrojadas, ler os livros que embelezam as prateleiras).
E quando tudo isto terminar, mantenhamos presente que é a nossa atitude perante os problemas e as adversidades, que ditará a direção da nossa vida!
Despeço-me com um grande abraço e com a confiança que sairemos disto juntos e mais fortes!