Noruega: Psiquiatria começa a apostar em tratamento sem fármacos
Finalmente, começamos a assistir a sinais consistentes da mudança do paradigma na Saúde Mental. Por toda a Noruega, vários hospitais estão a oferecer tratamentos para pessoas com perturbações mentais sem recurso a medicação, fazendo frente a uma tendência perigosa criada há 60 anos pela indústria farmacêutica e pela mudança de hábitos de consumo. Criaram-se drogas de todo o tipo para “tratar” comportamentos das pessoas.
Os comportamentos e as reações que temos às experiências da vida não são doenças, logo não se devem “tratar”, mas sim auxiliar a pessoa que sofre a ultrapassá-las. Seja a morte de alguém, as desilusões amorosas, os conflitos com quem as rodeia, as dificuldades profissionais ou mesmo os maus hábitos e medos adquiridos na infância e adolescência provocados por pressões e agressões várias.
O grande problema é que a evolução científica da humanidade criou um hábito a toda a população: o hábito das soluções rápidas. Comemos muito e ficamos enfartados… tomamos um comprimido; temos más posições posturais e ficamos com dor nas costas… tomamos um comprimido. Deixámos, portanto, de ter hábitos saudáveis para antes tomarmos um comprimido, pois os efeitos de bem-estar são muito mais rápidos.
As drogas narcóticas como o ópio, a heroína, a cocaína, entre muitas outras, incluindo o álcool, sempre foram utilizadas pelos povos de todas as épocas para se sentirem bem de uma forma artificial. Estas drogas alteram o nosso comportamento pela alteração bioquímica do nosso cérebro. O que a indústria farmacêutica fez, nos últimos 60 anos, foi criar variações destas drogas narcóticas e depois criar drogas sintéticas para produzir alterações artificiais do nosso comportamento. Assim e agora, quando não temos razões para sorrir, sorrimos porque estamos sob o efeito de drogas; quando temos medo de algo, ficamos desinibidos sob o efeito de calmantes.
O que é então a Doença Mental?
Doença, segundo a OMS, é a ausência de bem-estar físico e mental. Sendo a mente a forma como nos comportamos, como pensamos, quando nos sentimos mal perante as experiências da vida, a nossa mente reage com um estado de dor em que nos sentimos mal. Isto é a doença mental.
Compreendemos assim que a cura para as doenças mentais não está nas drogas para o cérebro, mas sim na mudança de perceção que temos de nós próprios e na forma como reagimos a essas experiências da vida. A Psicoterapia é a solução, não a Medicina. A Medicina psiquiátrica apenas consegue, com as drogas, disfarçar os sintomas do mau estar, mas é na Psicoterapia HBM que se encontra as causas e que recupera o bem-estar de cada pessoa que sofre.
Temos que nos congratular por começar uma nova era para a saúde mental. Na Noruega, está a começar uma abordagem nova para uma problemática terrível para o bem-estar dos seres humanos, permitindo que os doentes mentais tenham possibilidade de ultrapassar as suas dificuldades emocionais, como a Depressão ou a Ansiedade, com recurso a técnicas psicológicas e com a alteração de hábitos comportamentais.
Em Portugal, o país da Europa que mais consome calmantes, também estão a surgir modelos psicoterapêuticos que não recorrem a qualquer medicação e com resultados muito superiores às abordagens psicofarmacológicas. O modelo de intervenção psicoterapêutico HBM (Human Behaviour Map), que defendo e represento, tem tido, ao longo de 10 anos, resultados esmagadoramente positivos cientificamente relatados. O tratamento português conta com mais de 9.000 casos clínicos tratados de doença mental com uma taxa de eficácia que se situa entre os 80% de sucesso terapêutico nas doenças mais graves como a Depressão Severa, a Ansiedade, ou mesmo os Ataques de Pânico.
Esta mudança de paradigma no tratamento da saúde mental encontra uma forte resistência na indústria farmacêutica e na Psiquiatria, pois desvirtua em parte o papel destes intervenientes no tratamento dos distúrbios da saúde mental.
O que todos devemos refletir é que o mais importante é a saúde das pessoas, não a defesa de modelos ultrapassados ou de pressupostos instituídos. Devemos todos, começando pelas organizações de saúde dos países evoluídos, criar condições para se desenvolverem novas abordagens e experiências. Os países europeus pagam milhares de milhões de Euros em consultas de psiquiatria e na comparticipação de psicofármacos, mas não contratam psicólogos para os hospitais, nem apoiam iniciativas sociais de apoio às pessoas e às famílias que sofrem com a doença mental.
Por fim, não poderia deixar de mostrar o meu contentamento, por um país da Europa iniciar este movimento, esperando que os outros o sigam. Bem hajam!
Texto escrito por Pedro Brás, psicoterapeuta HBM, publicado na revista LUX de 01/01/2018