Anorexia nervosa: uma história com final feliz | Testemunho
A Matilde sofria de Anorexia Nervosa
A Matilde sempre foi uma miúda alegre, meiga, era sempre a delegada de turma, a professora dizia sempre que ela era apaziguadora, ajudava todos os meninos, era a líder da sala. Sempre foi a melhor aluna, mas nunca se gabava e sempre que podia ajudava os colegas.
Em casa, o ambiente também não podia ser melhor.
Até que, em junho de 2015, ela começou a fazer uma alimentação mais cuidada, cortou nos refrigerantes, nas batatas fritas, enfim, nos alimentos menos saudáveis. Começou a fazer mais desporto… e até aqui tudo bem… Ela pesava 57 kgs e tinha 1,65m.
Em setembro de 2015, fomos a uma consulta ao pediatra. Pesou-a, e voltou a pesá-la, porque achou que estava a ver mal: ela já estava com 47 kgs!
Perguntou quem a mandou fazer dieta, e ela respondeu que evitava comer “porcaria”, mas eu reforcei ao dizer que ela andava louca a contar as calorias.
Encaminhou-a para uma psicológa, que disse que ela comia de forma saudável, não tinha problema nenhum … até que saiu de lá a pesar 42 kgs e já sem o período menstrual.
Nesse momento, eu comecei a desconfiar que ela tinha anorexia e fui a uma psiquiatra muito conceituada. Todavia, a Matilde não gostava dela e, ao fim de 5 consultas, ela pediu-me para não ir mais. Já estava com 37 kgs!
O meu conselho como mãe é: mesmo que saibam que a médica é a melhor na área mas a vossa filha/o não tem empatia com ela, não vale a pena.
A nós, pais, aconselhou ignorar que a víamos a esconder a comida, porque ela iria arranjar mecanismos piores para continuar a esconder, era muito duro ver e ficar calada! E ela sempre revoltada connosco, sempre na cozinha a controlar como eu cozinhava, se punha batata na sopa, sal, etc..
Começou a cair-lhe o cabelo, a pele toda a descamar, qualquer ferida que fizesse não sarava e andava sempre pisada.
É muito duro, mas eu adotei um lema:
RECUSO-ME A SER INFELIZ!
E nunca a escondemos de ninguém, para onde fôssemos ela ia também. Eu gosto muito de falar, desabafava com toda a gente, tentava fazer programas com as minhas amigas, ia passar um fim de semana com o meu marido, para carregar baterias, tínhamos que estar unidos e fortes para a podermos ajudar.
Até que um dia eu desabafei com um colega de trabalho. Uma prima dele com uma filha na mesma condição levou-nos até à Clínica da Mente, que a salvou também.
Deslocámo-nos então à Clínica da Mente, onde eu e o meu marido tivemos uma reunião com o Dr. Pedro Brás e com a especialista que iria seguir a Matilde, a maravilhosa Dra. Marta Calado. Durante a conversa, senti que estávamos no caminho certo, transmitiram calma e confiança.
A Matilde chegou a pesar 32 kgs, já lhe custava andar, para sair do carro tinha que pegar nas pernas, e víamos ali a nossa filha a morrer aos bocadinhos… e quando falava com ela, ela só berrava e dizia que queria morrer, era horrível ouvir alguém que amamos mais que tudo dizer-nos que quer morrer.
O tratamento começou em março de 2016, e ela começou a comer no final de junho. Começou a engordar por volta de 2 kgs por semana; foi muito bom ver a nossa filha a comer e a ficar mais calma.
Antes, a Matilde não dormia; quando passou a frequentar as consultas, vinha calma e dormia bem.
Seguimos sempre as recomendações da Dra. Marta/Pedro Brás, e ela começou a mudar aos poucos.
Agora está com 62 kgs e com 1,67m: cresceu dois centímetros, o que é um ótimo sinal, uma vez que o crescimento pode parar se o processo da anorexia for demorado.
Em fevereiro de 2017 a Matilde teve alta!
Ficamos com um carinho enorme pela Dra. Marta Calado, e com um sentimento de gratidão para todo o sempre – afinal, salvaram a nossa filha.
Um grande abraço e obrigada por tudo, Dra. Marta Calado e Dr. Pedro Brás.
Testemunho de Maria Fernanda, mãe da Matilde (nome fictício)