Anorexia: a dor secreta
Não posso comer. Não vou comer. Se logo fizer mais exercício poderia comer agora… mas se agora não comer e logo fizer exercício, serão menos calorias a engordar-me!
Tenho fome. Sinto-me fraca. Sonho com comida. Mas não posso. Tenho de estar em controlo.
Controlo o meu peso, controlo a minha vida. Desde que faço dieta que tudo o que me aconteceu de mau no passado deixou de me afetar tanto. Sinto que nada de errado me pode acontecer agora. Estou protegida. A minha dieta e a minha perda de peso são a fonte da minha felicidade.
Se eu emagrecer mais um pouco, vou sentir-me melhor, mais feliz. Se eu for magra, realmente magra, as pessoas vão gostar mais de mim.
Fazer a mais pequena tarefa é duro, sempre com fome, sempre cansada. Mas eu sorrio, sorrio sempre, centenas, milhares de selfies sempre a sorrir, sorriso para a família, para os amigos, para os colegas, “estou ótima!”.
Penso obsessivamente em comida, naquilo que gostaria de comer, naquilo que comi, e conto precisamente cada caloria ingerida. As minhas rotinas tornam-se extremas para evitar momentos de tentação.
O meu estômago faz barulho, todos me perguntam se estou bem, o meu corpo dói e começa a falhar… Mas comer é que é falhar. Falhar o meu projeto, a minha missão. É colocar-me em risco, porque quando não fazia dieta as coisas más aconteciam. Agora estou segura, agora controlo.
E se emagrecer mais um pouco serei totalmente feliz.
O que é a Anorexia?
A Anorexia é uma perturbação no comportamento alimentar que afeta especialmente jovens mulheres. Caracteriza-se por um controlo extremo do peso corporal e por uma gravíssima restrição alimentar. O termo Anorexia tem origem na língua grega e é formado por dois vocábulos: a/an (uma negação) e orégo (“apetecer”) – então, Anorexia é a negação do desejo de comer.
A problemática da Anorexia não é tão visível nos homens porque o ideal de beleza e felicidade do corpo masculino não é a magreza, mas sim os músculos. Estes comportamentos excessivos de busca pelos músculos perfeitos pelos homens constitui um distúrbio mental chamado de vigorexia.
A nossa sociedade representa, como ideal de beleza e felicidade, mulheres magras, que expõem o seu corpo magro e que usam roupas justíssimas, mostrando as suas formas. Assim, qualquer jovem mulher, em busca do seu estilo e enquadramento social, acredita que deve ser magra para ser feliz e apreciada pelos outros.
A única forma de não se engordar é restringindo a ingestão de alimentos e fazendo exercício físico. Por isso, quem quer emagrecer sabe a receita: comer pouco e fazer ginástica.
O problema do emagrecimento é que a ginástica cansa e comer pouco faz com que a fome apareça e com ela a vontade em comer, que nos cria verdadeiras obsessões por comida… e quase todos cedemos à vontade e comemos alimentos que nos fazem falta à boa manutenção do nosso corpo, da nossa vida. Este ímpeto de comer, se em excesso, pode provocar outros distúrbios alimentares, e com isto outro problema muito grave: a obesidade.
Então, o que pode levar alguém a conseguir ultrapassar a fome e rejeitar quase por completo a ingestão de comida?
Muitas mulheres, ao sentirem-se extremamente infelizes com o contacto social – por bullying, rejeição social, difamações e outros tipos de ofensas e agressões – acreditam que a causa da sua infelicidade é o seu próprio corpo.
Na verdade, a infelicidade sentida em nada tem a ver com a forma do nosso corpo, mas sim com as agressões e ofensas que sentimos no ambiente que nos rodeia. É muito frequente as pessoas mais gordas serem gozadas e humilhadas pelos seus colegas, mas o problema não é o corpo, são as pessoas sem formação cívica que querem encontrar força na fraqueza dos outros, rebaixando e diminuindo a autoestima das suas vítimas.
Quem sofre essas angústias, acreditando que se não fossem tão gordas teriam outras oportunidades e outro tipo de relacionamentos sociais, pode desenvolver uma aversão absoluta ao seu corpo, e desenvolver profundos problemas na relação com o peso e a imagem.
E começa o processo de Anorexia...
Assim, se o problema é o peso, a solução parece simples: EMAGRECER… Mas emagrecer a todo o custo, porque a Infelicidade e a Angústia que se sente pela imagem de um corpo gordo é insuportável. O que alimenta a Anorexia é a Angústia. Esta Angústia é tão forte que a fome é uma mera sensação desprezível.
As mulheres que sofrem com este processo mental sentem pela primeira vez que têm controlo da sua felicidade e que esta está ao seu alcance, pois basta emagrecer, e para emagrecer já se conhece a receita: Não comer e fazer ginástica.
Começa um processo diabólico onde a loucura toma conta do processo. Loucura porque não comer é uma loucura, prejudicando a saúde física para alcançar uma mentira. A mentira é a certeza que sendo magras serão felizes. Contudo, mesmo emagrecendo, estas mulheres continuam infelizes, mas a receita continua… “se não estou feliz é porque ainda não estou magra o suficiente…” e o processo não para.
O problema continua, porque não se é feliz quando se atinge o objetivo, mas sim trabalhando para o alcançar. As mulheres em processo de anorexia acabam por desenvolver uma semi-felicidade porque se sentem motivadas pelo caminho que estão a fazer… sentem-se a cumprir um objetivo e a consegui-lo. Primeiro começam a ver os ossos do seu corpo, depois começam a contar as calorias dos poucos alimentos que consomem e a conseguir os seus objetivos de redução, depois conseguem disfarçar o comportamento e a família não nota, mais uma vitória, depois começam a sentir os ossos nas cadeiras onde se sentam…
Este processo de conseguir objetivos cria um estado positivo de alguma satisfação e que valida o caminho da felicidade que tanto buscam… mas lá no fundo a angústia continua a alimentar este processo destrutivo.
Vários estudos apontam para um número: 20% das mulheres anoréticas morrem à fome, e quase todas as outras irão sofrer ao longo da vida muitas sequelas pelos anos que passaram neste processo.
E o tratamento?
Uma terapia eficaz remete para o tratamento da causa desta infelicidade extrema. O objetivo da Psicoterapia HBM é o de ajudar as mulheres a resolverem os seus problemas de autoestima, de timidez, e a afastarem-se de todas as outras agressões vividas que as fazem sentirem-se infelizes.
Após uma intervenção psicoterapêutica, é esperado que as pessoas se sintam mais tranquilas com elas próprias, com a própria imagem do corpo, conseguindo ter a perceção de que o corpo não era o problema, mas sim uma forma concreta de conseguir controlar o sofrimento sentido pelas experiências do passado.