Dia da Criança | STOP à Caça ao Rótulo
Se é agitado, é hiperativo.
Se está afastado, é autista.
Se come saudável, é anorético.
Se está cabisbaixo, está deprimido.
Se não larga o telemóvel, é viciado.
Se está distraído, tem défice de atenção.
Se não dorme, tem perturbação do sono.
Se faz muitas vezes a mesma coisa, tem POC.
Se os colegas lhe falam mal, sofre de bullying.
Se está nervoso antes do teste, tem ansiedade.
Se não faz o que lhe mandam, tem comportamento opositor.
Patologia ou rótulo?
Como lidar com esta pressão? A criança já não pode ser criança e expressar-se em reações que são normativas, não patológicas, que já a querem encaixar num qualquer diagnóstico psiquiátrico. Calma, nem tanto ao mar, nem tanto à terra.
Porque hoje é dia da criança: STOP! Abaixo a ‘Caça ao Rótulo’.
Este fenómeno de naming (querer rotular tudo, para controlar, classificar e medicar) explica a tendência atual para nomear comportamentos que sempre existiram.
As perturbações, as síndromes e os défices são tão velhos quanto os nossos tetravós, eram apenas chamados de outra coisa, ajustados às vivências da realidade da altura. Enganem-se aqueles que creem que as crianças de hoje, são diferentes. Diferente está a sociedade e as pessoas nela, que necessitam de comunicar através de títulos, etiquetas e hashtags, e banalizam e abreviam a complexidade psicológica.
Quando é conferido um diagnóstico a uma situação que faz parte do desenvolvimento da criança, isso não determina que exista um problema. Sim, é possível intervir, sem que seja necessário dar um nome.
A atribuição de rótulos às crianças serve para tranquilizar os adultos que precisam de “meter em caixinhas” o que é (apenas!) diferente. Porém, enfatiza pela negativa as dificuldades e não as potencialidades da criança, o que pode ter consequências nefastas no seu desenvolvimento, no sobrediagnóstico, e no recurso à medicação para resolver desafios psicológicos.
Porque se assinala o Dia da Criança, de uma vez por todas, vamos deixar de brincar à ‘Caça ao Rótulo’.